quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Santa Bernadette: “Nossa Senhora me disse que eu não seria feliz neste mundo, mas no outro” (1871)

Replica da gruta de Lourdes no convento de Nevers
Replica da gruta de Lourdes
no convento de Nevers



1871

Madre Maria Teresa Bordenave:

No final de 1870 ou no início de 1871, ainda havia enfermarias militares de campo na casa-mãe; um dia, a farmácia pegou fogo; a noviça de plantão ficou tão impressionada que sofreu de dores terríveis durante 24 horas.

Irmã Marie-Bernard [N.R.: nome de religião de Santa Bernadette], com pena, disse a uma irmã, depois que haviam esgotado todas as possibilidades de remédio:

“Vou tentar lhe dar água de Lourdes; rezem comigo e façam-no com fervor”.

Fizeram isso: alguns minutos depois, as dores haviam cessado.


Antes de agosto

Irmã Madealena Bounaix:

Eu ficava impressionada com a sua retidão e sinceridade. Não creio que tenha mentido alguma vez, e, sobre isso, lembro-me de um episódio que confirmou minha opinião.

Um dia falávamos de Lourdes e de Bartrès, e ela me disse:



“Você não pode imaginar como eu era ignorante. Imagine que meu pai, vindo me encontrar, me viu guardando o rebanho, muito triste. Quando ele me perguntou o motivo daquilo, eu lhe respondi: ‘Olha só as minhas ovelhas, várias delas têm as costas verdes’.

E ele, rindo: ‘É o capim que elas comeram que já está saindo pelas costas: talvez elas morram’. E então chorei de verdade, e meu pai, me vendo tão cheia de dor, me consolou e me explicou que aquela era a marca do comerciante ao qual eles as haviam vendido”.

Ouvindo essa história, pus-me a rir e disse a ela:

“Como assim? Você era tão ingênua a ponto de acreditar numa coisa como aquela?”.

Ela me respondeu: “Minha querida, como eu não sabia mentir, acreditava em tudo o que me diziam”.

Um dia falávamos das práticas de piedade para com Nossa Senhora. Eu lhe disse que havia uma de que eu gostava muito: rezar doze ave-marias em honra dos doze privilégios da Mãe de Deus.

Ela me respondeu com um ar feliz e satisfeito: “Continue com essa prática; agrada muito a Nossa Senhora”.

Agosto

Irmã Vincent Garros, de nome secular Julie Garros, amiga de infância de Bernadete:

Em Lourdes, havia uma congregada, conhecida pelo nome de senhorita Claire, muito pia, que sofria havia muito tempo. Quando cheguei à casa-mãe, Bernadete quis saber notícias dela, e eu lhe disse:

“Ela não apenas sofre pacientemente, mas diz também estas palavras, que me deixam realmente surpresa: ‘Eu sofro muito, mas se isso não basta, que o Senhor me acrescente mais sofrimento ainda!’”.

Irmã Marie-Bernard fez uma reflexão: “É bem generosa; eu não faria a mesma coisa. Eu me contento com aquilo que ele me manda”.

Ela gostava também de me contar que, do rebanho do qual cuidava, tinha uma predileção particular por um carneirinho branco.

Quando ela conseguia armar o seu altar de flores no campo, ele vinha e o demolia com uma chifrada; e quando estava conduzindo o rebanho, o carneirinho começava a correr e, com uma chifrada abaixo de seus joelhos, fazia-a cair, o que a divertia muito.

Para puni-lo, Bernadete lhe dava pão com sal, que ele adorava.


No noviciado, eu dizia a Bernadete, quando ela estava doente, na enfermaria: “Você sofre muito, não é?”

Ela me respondia: “O que você quer? Nossa Senhora me disse que eu não seria feliz neste mundo, mas no outro”.

Ela nos aconselhava frequentemente que perdoássemos, que não esquecêssemos a invocação do Pai Nosso: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos...”.

Ela me disse também: “Quando você passa na frente da capela e não tem tempo para parar, encarregue seu anjo da guarda de levar sua mensagem ao Senhor no tabernáculo. Ele vai levá-la e depois a alcançará de novo”.

Acredito que Bernadette meditava os mistérios, pois um dia, quando eu lhe disse que não conseguia rezar ou meditar, ela me sugeriu que fizesse assim:

“Transporte-se até o Monte das Oliveiras ou até os pés da cruz, e fique por lá: o Senhor vai lhe falar e você o escutará”.

Às vezes eu lhe dizia: “Eu estive lá, mas o Senhor não me disse nada”. Mesmo assim, eu continuava a rezar.

Um dia eu lhe disse: “Como é que você consegue ficar tanto tempo em ação de graças?”

Ela me respondeu: “Penso que é Nossa Senhora que me dá o Menino Jesus. Eu o pego no colo. Falo com ele e ele fala comigo”.

Sei que, entre os santos, Bernadete tinha uma devoção particular por São José. Ela repetia estas invocações: “Dá-me a graça de amar Jesus e Maria como eles querem ser amados. São José, reza por mim. Ensina-me a rezar”.

E me dizia: “Quando não conseguimos rezar, devemos nos dirigir a São José”.

Ela me dizia também: “Quando você está diante do Santíssimo tem, de um lado, Nossa Senhora, que lhe inspira o que você deve dizer ao Senhor, e, do outro, o seu anjo da guarda, que anota as suas distrações”.

Bernadete dizia: “Temos de receber bem o Senhor. Temos todo o interesse de lhe dar uma boa acolhida, uma acolhida amável, pois então ele terá de nos pagar o aluguel”.

Ela me dizia que antes de realizar qualquer ação é preciso purificar a intenção. Eu lhe observava que isso era difícil. Ela me respondia: “É preciso fazê-lo, pois assim se age melhor e custa menos”.

Ela dizia: “Se você trabalha para as criaturas, não terá recompensa e ficará muito mais cansada”.

Numa outra oportunidade, na enfermaria, ela me disse: “Vou lhe dar um bom lanche”. Havia frutas em conserva. 

Ela me serviu e disse: “Hoje é sábado, eu não vou comer; farei esta pequena mortificação por Nossa Senhora”.

Bernadete, eu tenho certeza, sempre controlou seus impulsos interiores. A respeito disso, ela me dizia: “O primeiro impulso não nos pertence, mas o segundo, sim”.

Quando tinha crises de asma – frequentes, infelizmente – dava pena. Nunca se lamentou. Quando passava a crise, dizia: “Obrigado, Senhor!”.

Nossa Senhora lhe havia pedido que rezasse pelos pecadores; ela devia fazer isso, certamente. Mais de uma vez, me disse: “Rezemos pela família tal, para que a Virgem a converta”.

Muitas vezes, depois da oração, Bernadete acrescentava: “Senhor, livrai as almas do purgatório”.

De vez em quando, rezávamos juntas o rosário dos defuntos e acabávamos assim: “Doce Coração de Jesus, sede o meu amor, doce Coração de Maria, sede a minha salvação. Meu Jesus, misericórdia! Concedei o repouso eterno às almas dos fiéis defuntos”.


Novembro

Irmã Eleonora Bonnet:

No dia de Todos os Santos, eu soube que Bernadete estava doente. Conhecendo seu amor pelas flores, colhi violetas, que, apesar da época, haviam florescido perto da parede da cozinha, e mandei-as a ela por intermédio de uma noviça que trabalhava na enfermaria.


Madre Maria Teresa Bordenave:

Um dia, uma superiora lhe perguntava se não tinha experimentado um sentimento de satisfação pelos favores que a Virgem lhe concedera.

“O que a senhora pensa de mim? Quer que eu não saiba que, se Nossa Senhora me escolheu, é porque eu era a mais ignorante? Se tivesse encontrado uma mais ignorante, ela a teria pego, e não a mim”.


Irmã Joseph Ducout:

Eu a vi sofrer moral e fisicamente. No sofrimento, nunca disse uma palavra que exprimisse sua dor. Pegava o crucifixo, olhava para ele, e pronto.


Irmã Madalena Bounaix:

“O que você faz aqui?”, ela me disse.

“Estou de partida, e espero a mestra das noviças.” 

Ela continuou: “E para onde você vai?”.

“Para Beaumont.”

“Bem, irmã, não esqueça o que eu lhe digo: onde quer que você esteja, lembre-se sempre de trabalhar só pelo Senhor. Você entende, não é? Pelo Senhor”.


Dezembro

Irmã Vitoria Cassou:

Bernadete me disse: “Na missa da meia-noite, venha ficar perto de mim. Há lugar”. Fui toda contente. Assim, pude constatar como era pia e recolhida. Escondida atrás de seu véu, nada podia distraí-la.

Depois da comunhão, entrou num recolhimento tão profundo que todos saíram, sem que ela parecesse nem se dar conta. Fiquei a seu lado, pois não tinha nenhuma vontade de ir para o refeitório com minhas companheiras.

Contemplei-a durante um longo tempo, sem que ela percebesse. Seu rosto estava radiante e celestial, como durante o êxtase das aparições.

Quando a irmã encarregada de fechar as portas da igreja veio cumprir seu dever, agitou com força as correntes. Só então Bernadete saiu de seu estado semelhante a um êxtase.

Saiu da capela e eu a segui. E, no claustro, inclinou-se para mim e sussurrou: “Você não comeu nada (no refeitório)?”. E eu respondi: “Nem você”. Retirou-se em silêncio e nós nos separamos assim.


Acompanhe online o que está acontecendo agora na própria gruta de Lourdes pela Webcam do santuário.

Um comentário:

  1. Obrigado por me enviar essas mensagens de Lourdes....cada vez que leio...é como minha alma se revigora em força...luz e esperança...N.S. de Lourdes os abençõe.Amém..

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